sábado, 27 de julho de 2013

Palavra de mulher



Por: Silmara Silva [ONIJÁ]



Já não mais peço, exijo
Hoje eu renego os seus livros
Com seus heróis e princesas
Suas ditadoras belezas
Fraqueza não é virtude
Seu discurso não me ilude
Suas condollezzas não falam por mim
E nem por nós
Sou Zeferina, Luiza Mahin
Não calam nossa voz


Luiza Mahin


Me fez de escrava, mucama
Me fiz guerreira que inflama
Que se rebela e que chama
Não silencia, não cansa, avança
Me fez de ama de leite
Meu estupro foi seu deleite
Hoje me diz “foi fraterno”
Sua teoria farsante eu não quero
Eu sou reverso da submissão
Não parei
Já nos tumbeiros fiz insurreição
Confrontei




Incendiei seu engenho
Fiz revolta dos malês
Eu te matei com veneno
Levantes organizei
Cadê meus filhos jogados, largados
Na roda dos expostos
Cadê meu seio arrancado
Cadê meus irmãos mortos


Anastácia


Sangue nos dedos
Cortados, marcados
Sem freios
Assim trabalho, dobrado, acelerado
Suor no corpo, no rosto
Quarenta graus de sufoco


Operárias chinesas (Foto: Edward Burtynsky)


Caiu a lágrima, sequei
A dor ainda não matei
Sou as mulheres na Rússia
No seu sangrento domingo


Domingo Sangrento na Rússia


Eu sou a mãe que ergue a bandeira
Vendo preso o seu filho
Sou Rosa Parks sentada no banco que é do branco
Que não levanta, não cede, causando tanto espanto


Rosa Parks


Sou palestina em Gaza combatendo sionista
Sou mexicana em Oaxaca confrontando a polícia


Palestina



Oaxaca, México


Sou a menina na noite explorada por turista
Sou haitiana estuprada por um prato de comida
Nas plantações de algodão eu sou o canto do blues
Voz que ecoa e levanta os escravizados no sul
Se vocês homens não vão, nós mulheres iremos
Contra os ingleses em Gana Asantewaa combatendo


Yaa Asantewaa


Não sou lamento, fracassou seu intento de me apagar
Ainda me aguento, mesmo no relento eu vou desafiar
Rasgando os véus e suas regras que nossa vida destroça

Porque sou Panteras Negras, sou rap, sou quilombola


Kathleen Cleaver, Black Panthers

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